Hoje em dia existem muitas charges e piadinhas feitas por marmanjos que viveram seus saudosos anos 80 e 90 sobre as estranhezas dos jogos da época, e que somente eles conseguem pegar num primeiro momento, e as cadeias de comentários de todos os tipos fazem o resto. Não que elas não sejam engraçadas (a maior parte delas, pelo menos), mas são contestações numa época calcada pelo realismo gráfico, pelos games cinematográficos e grandiloquentes, em contraponto a um período que as narrativas e as próprias ideias eram muito mais despretensiosas.


Quer um exemplo? Que empresa atual aceitaria como ideia de game com um encanador italiano que precisa salvar uma princesa de uma mistura de lagarto com tartaruga num mundo repleto de bizarrices, com seu principal upgrade através de cogumelos? Ou uma bolota cor de rosa que engole seus inimigos e mora num planeta em forma de estrela? É só reparar os games mais aguardados do ano e perceber que as últimas gerações estão mais próximas de outras mídias, como o cinema, do que os próprios games.

Se você é um dos marmanjos que comentei acima, vai se lembrar bem do que vou falar a seguir. Se é um jovem da nova geração, permita-me apresentar uma época que os jogos não tinham lá sua lógica, e eram tão divertidos quanto os atuais.

A Diversão no Desprendimento

Confesso que não vivi os tempos do Atari ou do Nintendinho, embora nesse último eu tive uma noção da época com o Dynavision… Pois é. Mas se tem algo que os jogadores desta época irão lembrar, até com uma certa nostalgia, era o incentivo imaginativo que os games davam a seus jogadores.

Quer um exemplo? Pense em Pac-Man. Uma criatura que parece uma massa de pizza foge de fantasmas enquanto se alimenta de bolinhas e frutas. Outro exemplo é Baloon Fight: um garoto com dois balões precisa fugir e manobrar para que os balões não estourem pelo ambiente ou por adversários.


Isso para citar apenas alguns. Se perguntar a um gamer dos anos 80, ele lhe falará uma lista infindável de jogos, de Pong e Pitfall a Space Invaders e Elevator. E em todos eles, pergunte se há uma trama, personagens bem elaborados, e outros elementos tão cobrados hoje em dia… A resposta será sempre a mesma. E mesmo assim, o sorriso nostálgico dos entrevistados será latente.

Sim, os gráficos eram limitados e as mecânicas eram simples. Alguns sequer haviam final (e imaginem o choque para alguns jogadores quando games no NES e nas gerações seguintes passaram a ter um fim…), e mesmo assim eram desafiadores e contagiantes. E o motivo é simples: a proposta era o puro desprendimento.

Enquanto o cinema, a literatura, e até os quadrinhos eram mídias voltadas a cultura e a elucidação de seus acompanhantes, os games ainda eram tratados como puro entretenimento, um novo grau na diversão de um brinquedo. E tal como os brinquedos, seus usuários utilizavam a imaginação para completar aquilo que observavam.

Então, se para você, jovem, Space Invaders era apenas um “jogo de navinha” para brincar no celular nas longas filas e nos tempos vagos do colégio, para um gamer da velha guarda poderia ser uma grande luta pela defesa da humanidade. Claro, é pura imaginação exagerada, mas o conceito está ali.
Por falar em conceito...

Conceito X Trama

Essa é uma discussão que pode levar horas entre os mais entusiastas. Um dos aspectos mais procurados atualmente nos grandes jogos são tramas bem elaboradas, com escolhas que te façam se sentir na pele de um personagem tanto quanto em outras mídias, ou acompanhar sua trajetória rumo a um fim imutável.

Já outros procuram um conceito simples, uma ideia básica que os façam gastar algumas horas se divertindo sem se preocupar (tanto) com reviravoltas, clímax e tantos outros elementos narrativos necessários. Só para constar, nenhuma das abordagens é ruim. Basta entender a proposta do game.

Vamos um pegar um exemplo. O gênero dos Beat’em ups (Final Fight, Streets of Rage, Cadilacc Dinossaurs, Captain Commando, Double Dragon… a lista é longa) sempre foi conhecido por apresentar conceitos básicos de história, às vezes mais rasos do que as histórias de artes marciais que os inspiraram. E sinceramente, quem se importava com enredo quando a grande diversão era bater em tudo que se movia até chegar ao final, quando acabávamos com o grande vilão e salvamos o dia?

Sobre as narrativas, já falamos com bons detalhes neste post do Papo de Gamer. Mas vale um pequeno adendo: com a chegada de games realmente elaborados em enredo, começou-se uma tendência a menosprezar os jogos mais simples, taxados como “bobos”, “sem graça” ou até “infantis”. Mas será que é assim mesmo?
Uma vez que os games possuem o propósito inicial de divertir seus jogadores, no fim das contas pouco faz diferença sobre qual é o melhor estilo. Temos um mercado abrangente o bastante para cobrir todos os tipos de público, e se por um lado o core da indústria está nessa complexidade narrativa, por outro ainda encontramos aquele ar nostálgico que apenas os gamers mais casuais conseguem aproveitar.

Os tempos atuais

O mercado para games mobile hoje são os que mais apresentam essas propostas despretensiosas de jogos, com conceitos (ou desculpas) o suficiente para manter os jogadores literalmente viciados em seus jogos. Angry Birds, Plants vs. Zombies, Candy Crush Saga, e o polêmico Flappy Bird são apenas alguns exemplos, pois a lista é tão longa quanto os games da primeira geração. Isso sem contar os games para redes sociais, a gamificação em determinados setores…
Todos eles seguem propostas simples, e sem a mesma lógica de antigamente. Ou você acha perfeitamente natural lançar passarinhos com um estilingue gigante para destruir fortificações feitas por porcos verdes sem mãos (e como eles conseguem construir tudo aquilo)?


Com tudo que foi levantado, podemos chegar a uma conclusão bem simples: com uma ideia bem elaborada e criativa, quem se importa com sua lógica? Posso garantir que as boas ideias, e as que ajudam a movimentar o mercado, não se prendem a lógica, não inicialmente. É só observar.
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